Fundada em 10 Março de 1946

9/01/16

| HISTÓRIA |


Na lei imutável da Natureza todas as coisas têm um princípio e um fim. Assim, a Academia, a colectividade que está no coração de todos os Santamarenses, veio a ter a sua origem quando, em 1865, um punhado de indivíduos fundou, no Alto de Santo Amaro no início da travessa Conde da Ribeira, uma agremiação recreativa a que deram o título de “Sociedade Filarmónica Esperança e Harmonia”, conhecida por “Sociedade da Travessa”, uma Esperança envolvendo todos os anseios que podem ser albergados pela alma humana, traduzia em si a fé inabalável nos destinos dessa Colectividade, e a Harmonia, significativa dos desejos de boa vontade que se pretendia entre a população do Bairro.

Mas os Santamarenses, na sua constante insatisfação, foram os primeiros a atraiçoar a harmonia que os norteava, e sedentos da convivência de que são avaros, criaram três anos mais tarde (1868), uma outra colectividade a quem deram o nome “Sociedade Filarmónica Alunos de Harmonia”, que se situava junto à Capela de Santo Amaro, a escassos metros da primeira, e que passou a ser conhecida por “Sociedade do Largo”.

Assim Santo Amaro, situado num dos bairros mais novos da cidade de Lisboa – Alcântara – ficava com duas colectividades (que possuíam Filarmónicas, grupos cénicos, escolas de musica e uma escola primária para os filhos dos sócios) que o decorrer dos anos havia de elevar ao ponto mais alto no meio recreativo e cultural do nosso Portugal, criando entre elas acesa rivalidade que, se por um lado parecia perniciosa, se revestia contrariamente duma enorme utilidade, porque despertava quereres e unia anseios, num desejo de que cada uma fizesse mais e melhor.

Anos mais tarde em 1915, a mocidade de Santo Amaro, disposta a contribuir também com o seu generoso esforço para o engrandecimento do recreio popular, e não se revendo nas Sociedades existentes, cria outra colectividade o “Grupo Dramático e Musical Apolo”, que passa a ser conhecida simplesmente por “Grupo”, a qual como o próprio nome indica também possuía um grupo cénico e uma nova Filarmónica.

Os anos continuavam a passar, deixando no seu rasto uma vida de sacrifícios, esperanças e certezas, sonhos e ilusões, tristezas e alegrias, fortalecendo vontades que iam até à abnegação, para que o “Grupo”, a “Travessa” e o “Largo” subissem cada vez mais alto.

Mas em 1943 surge a notícia de que o novo plano de embelezamento da nossa cidade, obriga ao desmantelamento das sedes de duas sociedades Santamarenses: a “Travessa” e o “Largo”.

Mas elas não podem morrer, elas têm que continuar uma obra que só desperta admiração e orgulho nos Santamarenses, e como a Harmonia nesta hora não deixou de existir dentro deste bairro de gente ordeira e boa, que mostra no seu fato de ganga o emblema mais nobre que os homens ergueram no seu culto ao trabalho, as três colectividades vêem no infortúnio o sintoma duma união necessária, imprescindível, e dão as mãos lealmente e uma única fica a atestar o passado honroso das três que lhe deram origem, vida e grandeza: a Academia de Santo Amaro.

Assim em 10 de Março de 1946 é criada uma Academia forte e “vaidosa” da sua Nova Sede (inaugurada a 9 de Fevereiro de 1956) monumento erguido ao Recreio e Cultura Popular, que no Alto de Santo Amaro, ciente da responsabilidade que tem, mercê da herança que lhe foi legada, olha orgulhosa o Tejo, donde partiam os descobridores e conquistadores de novos mundos, dizendo-lhe que também ela é uma conquistadora, porque venceu e submeteu à sua extraordinária vontade os homens e as mulheres deste Bairro, tornando-os num “GRUPO” compacto, onde reina a “HARMONIA” e em cujos corações vibra a mesma “ESPERANÇA” num futuro que todos acreditam mais brilhante e próspero.


- Retirado do boletim mensal da Academia de Santo Amaro, número especial da inauguração da nova Sede, escrito por José Lopes Rodrigues -



Um episódio curioso aconteceu quando da formação da A.S.A.:

As direcções das Sociedades que eram forçadas a acabar reuniram-se para formar uma nova, e ficou entre elas determinado que a nova colectividade não poderia ter qualquer dos nomes das fundadoras, isto é não podia ter os nomes: - ‘Filarmónica’, ‘Esperança’, ‘Harmonia’, ‘Alunos’, ‘Dramático’, ‘Musical’ e ‘Apolo’, pelo que nessa reunião ficou decidido que o futuro nome seria ‘União Recreativa das Sociedades Santamarenses’. 

Quando o quiseram registar, a conservatória não o autorizou, pois a sigla era sujeita a más interpretações em 1946 – ‘U.R.S.S.’, pelo que tiveram de optar por outro nome, o actual ‘ACADEMIA DE SANTO AMARO’.